sábado, 23 de abril de 2011

E se ...



E se ...

... a gente não sentisse inveja e no lugar dela muita disposição para alcançar tudo o que desejamos?

... todos amassem seus empregos?

... a gente pudesse comer tudo o que quisesse e não engordasse nem comprometesse a saúde?

... todos pudessem ter um lar?

... não houvesse crueldade contra os animais?

... todas as mães pudessem cuidar bem de seus filhos e de si mesmas sem se preocupar com o mercado de trabalho nem com suas contas a pagar?

... desejássemos mais ser do que ter?

... todos os seres humanos acreditassem em um Deus único e tivessem atitudes cristãs todos os dias de suas vidas?

... todos respeitassem a Constituição?

... todos parassem de pensar que a vida do outro é sempre melhor do que a sua?

... todos os pais e mães amassem seus filhos?

... os homens e mulheres se respeitassem e tolerassem suas infinitas e necessárias diferenças?

... não houvesse guerras?

... todas as crianças e adolescentes pudessem ter acesso a uma escola de qualidade?

... todos respeitassem as leis de trânsito?

... não houvesse qualquer tipo de preconceito?

... todas as pessoas soubessem usar o sexo para o bem de si próprias e do outro?

... não existisse poluição?

... todos os idosos pudessem ter um fim de vida digno?

... todas as leis que protegem os consumidores fossem respeitadas?

... não houvesse drogas?

... toda a humanidade fizesse orações e pensamentos positivos em prol de um mundo melhor todas as noites antes de dormir?

... ninguém precisasse tomar anti-depressivos?

... todas as crianças pudessem viver suas infâncias plenamente sendo amadas e respeitadas tendo sua inocência preservada?

... não houvesse ódio, só Amor?

E se todas as pessoas fossem felizes?

Como seria viver?


sexta-feira, 15 de abril de 2011

O Patinho Feio



“Cada conto de fadas é um espelho mágico que reflete alguns aspectos de nosso mundo interior, e dos passos necessários para evoluirmos da imaturidade para a maturidade” (Bruno Bettelheim).

Uma das coisas mais interessantes que aprendi no curso de Psicopedagogia foi sobre os contos de fadas e sua relação com nossa infância e nossos conflitos.
E já que vamos falar de histórias e eu tenho lido muito a palavra “estória” por aí (inclusive em publicações bastante respeitadas) é necessário esclarecer que o uso da palavra “estória” foi abandonado há muitos, muitos anos atrás. Desde então só “história” está valendo.
Veja o que diz o Dicionário Aurélio no verbete “estória”:
estória
Substantivo feminino.
1. V. história. [Recomenda-se apenas a grafia história, tanto no sentido de ciência histórica, quanto no de narrativa de ficção, conto popular, e demais acepções.]

Contos de fadas datam da era medieval e não se prestam só a entreter. Através das suas histórias fantásticas e de seus conflitos entre o bem e o mal os contos de fadas ajudam as crianças no processo de amadurecimento na medida em que as auxiliam na elaboração de suas próprias vidas. Seus personagens típicos (fadas, bruxas, gigantes, etc), são representações traçadas pela humanidade para simbolizar os nossos sentimentos mais profundos.

“Mitos e contos de fadas expressam processos inconscientes. A narração dos contos revitaliza esses processos e restabelece a simbiose entre consciente e inconsciente”  (Carl Gustav Jung)

Crescer é um grande conflito humano e um difícil processo e os contos de fadas parecem ajudar as crianças em sua evolução para a fase adulta pois “a forma e estrutura dos contos de fadas sugerem imagens à criança com as quais ela pode estruturar seus devaneios e com eles dar melhor direção à sua vida” preconiza  Bruno Bettelheim, reconhecido estudioso do assunto.
Me lembro vividamente que eu aprendi a ter compaixão com O Patinho Feio. Minha irmã me comprou este livro e o lia para mim com freqüência. Eu ficava extasiada ao ouvir a história, lembro-me até hoje das sensações. Eu queria tanto poder pegar aquele patinho no colo, fazer um carinho e dizer “Não tenha medo. Tudo vai ficar bem!”.
Fiquei muito emocionada quando alguns meses atrás recebo a visita de minha irmã aqui em casa e ela chegou com uns livros na mão para dar a minha filha. Estavam velhos, amarelados e cheios de pó. E lá no meio  deles não  estava o meu tão adorado O Patinho Feio da minha infância mas alguns outros da mesma coleção (ela os havia surrupiado para compartilhá-los com meu sobrinho Léo, hoje com 21 anos!). Que emoção rever aquelas páginas ... era uma coleção de livros grandes com lindas ilustrações.
Os estudos da Psicanálise revelaram aspectos bastante interessantes, e eu diria intrigantes, sobre nosso conto de fadas preferido, aquele que os nossos pais (irmãos, tios e por aí vai) não aguentavam mais nos contar de tanto que pedíamos “de novo!”. Esta escolha revelaria nosso estilo e  personalidade.
Vamos a uma breve interpretação.
Aqueles que tinham Os Três Porquinhos como sua história preferida, eram crianças vivendo o conflito entre o Id, o Ego e o Superego, ou seja, o que eu tenho vontade de fazer, o que minha consciência diz que devo fazer e o que querem que eu faça.
As meninas que tinham os contos Branca de Neve e/ou Cinderela (Gata Borralheira) como preferidos pode-se dizer que apresentavam um conflito materno marcado pela falta de interesse de suas mães, por rivalidade fraterna e complexo edípico. Através do  conflito bruxa (madrasta)-mãe boa, vemos que a bruxa é a parte da mãe que lhe faz exigências ou representa uma ameaça, e a mãe boa é aquela que satisfaz os seus desejos a todo instante e lhe oferece conforto e proteção.
João e Maria deleita as crianças que amam comer doces, adoram agradar seus pais e não querem encarar a idéia de que precisam amadurecer e ser independentes. Muito semelhante aos fãs de João e o Pé de Feijão, conto preferido dos meninos que vivem de agradar suas mães, para eles o único meio de serem amados.
Peter Pan é a história das crianças que não querem crescer e tem medo de encarar a realidade (não por acaso o conto favorito de Michael Jackson).
A Pequena Vendedora de Fósforos é o conto das crianças que se sentiam excluídas e desamparadas e Rapunzel é o conto preferido das que sofrem com pais castradores, super protetores e ciumentos.
As crianças que preferiam A Guardadora de Gansos buscavam desesperadamente por autonomia.
A Bela e a Fera é o conto do verdadeiro amor. As meninas que apreciam este conto desejam ter forte ligação com o pai e estão tentando superar suas dificuldades edípicas. Elas desejam que eles ajudem em sua independência e as protejam de seus medos, auxiliando-as na passagem para a vida adulta.
Chapeuzinho Vermelho encanta as meninas lidando e tentando solucionar o complexo de Édipo porque não temem crescer.

Cachinhos de ouro e os três ursos marca as crianças que estão confusas em relação a si mesmas e buscam uma identidade e saber o que representam em relação as pessoas importantes de sua vida.
As adolescentes ou púberes que estão passando por grandes mudanças físicas e emocionais se encantam com A Bela Adormecida. Estão abandonando a segurança da infância, aprendendo a enfrentar os perigos desta passagem para enfim se descobrirem mais amadurecidas.

" ‘A Bela Adormecida’ tem, de várias maneiras, uma mensagem importante para a nossa juventude atual, mais importante do que muitos outros contos. Atualmente muitos jovens - e seus pais temem o crescimento calmo, onde parece não acontecer nada, devido a uma crença comum de que só se fazendo coisas pode-se atingir os objetivos. ‘A Bela Adormecida’ diz que um período longo de calma, de contemplação, concentração sobre o eu, pode levar e seguidamente leva às maiores realizações.” (Bettelheim)




Estas são apenas breves considerações sobre a relação que o nosso conto de fadas preferido tem com nossa infância. Quem quiser se aprofundar deve ler “A Psicanálise dos Contos de Fadas” do austríaco-americano Bruno Bettelheim, da editora Paz e Terra.
 
Há cerca de um mês comprei um livro lançado recentemente chamado Contos de Fadas da Editora Zahar (pode ser encontrado até em supermercados) onde as histórias são apresentadas em sua versão original, sem adaptações. Fiquei perplexa com os detalhes sórdidos de Branca de Neve e o fim surpreendente de Cinderela (fiquei de queixo caído com o que ela faz com as irmãs no final).
Ficou curioso, né? Então compre o livrinho que vale a distração.



Ah sim,  já ia me esquecendo, o que O Patinho Feio tem a ver comigo? Bem, segundo uma visão Psicanalítica, as crianças que tem esse conto como seu preferido sentem-se um “peixinho fora d’água” e necessidade de serem aceitas.


“Invariavelmente, qualquer conto de fada segue um enredo no qual o herói abandona a casa de seus pais, passa por diversas privações (seja na floresta escura, na casa de doces da bruxa, no castelo mal-assombrado) e então, como Fênix, renasce das cinzas, glorioso e triunfante, e vive ‘feliz para sempre’. (...) A criança nasce protegida pela família (equivalente à casa paterna dos contos), e vive nesse meio até alcançar a maturidade. Quando já está madura o suficiente, também é obrigada a deixar a segurança do lar para alcançar outros mundos: começa a frequentar a escola, a fazer amigos fora de casa e a ter de resolver seus conflitos com eles. É esse processo que fará dela um adulto autônomo e independente. Os contos asseguram à criança que, por mais que ela possa ter problemas (notas baixas na escola, ser desajeitado no jogo de futebol, perder um grande amigo, enfrentar o divórcio dos pais, etc.) será capaz de atravessar a ‘floresta escura’ e superá-los, como o herói dos contos.”  (Taicy de Ávila Figueiredo)




Leia também:

A Paicanálise na Terra do nunca - Mario Corso & Diana Corso

Fadas no Divã -  Mario Corso & Diana Corso



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